HISTÓRIA UNIVERSAL DOS TERREMOTOS
Fundação Botín – Santander, Espanha, 2017
Curadoria de Álvaro Rodríguez Fominaya

17 de Fevereiro a 16 de Abril, 2017

Em 1775, a cidade de Lisboa foi destruída após ter sofrido um terramoto, seguido por um tsunami e um incêndio. Este evento catastrófico teve um efeito profundo no país. Letícia Ramos parte deste evento histórico para produzir uma narrativa não-documental. A artista tem cultivado um interesse específico em “cozinhar” a fotografia, e desenvolveu várias câmeras protótipo. Consequentemente, há uma certa fisicalidade na experiência das imagens em seu trabalho. Esta experiência fotográfica mergulha-nos numa ideia do passado através do grão e da textura. Este cruzamento entre ciência e artesanato, entre conhecimento e experimentação, surge em várias de suas séries de obras. História universal dos terremotos (2016-17) não é um documento ou uma revisão histórica do que aconteceu em Lisboa; é uma história de ficção baseada em um evento que Ramos usa para tecer uma experiência própria. Historia universal de los terremotos é o projeto que ela criou para esta exposição e inclui não só uma série de fotografias, como também um livro de artista e uma escultura (devemos chamá-la cinético?), que está relacionado com a gaiola pombalina. Esta estrutura, a gaiola pombalina, foi desenvolvida em Lisboa como uma técnica de construção anti-sísmica após o terramoto.

Para esta série fotográfica Ramos utiliza um processo de fotografia estroboscópica em microfilme com o qual captura o movimento de objetos em queda, numa referência direta ao impacto do terremoto.
A fotografia estroboscópica tem sido usada principalmente no mundo científico e tornou-se amplamente conhecida através do legado de Edgerton. Ramos encontrou uma maneira de entrelaçar o natural com o místico, a força de um fenômeno geológico com a construção humana de um imaginário governado pelo irracional. El mago y el terremoto (2016) e Espectro do seísmo (2016), títulos de séries de imagens dentro deste projeto, refletem essa convergência com o esotérico. As imagens, de natureza abstrata, refletem a perda de foco que imaginamos em um evento deste tipo, onde tudo perde seus contornos acentuados e é abandonado ao seu destino natural. Essas imagens também nos levam ao campo da vanguarda, ao contrário da fotografia histórica. O fascínio pela estrutura da gaiola é expresso em uma série de estudos em que a artista analisa o movimento de uma folha de papel falhando, também usando a técnica estroboscópica.

Não é a primeira vez que Letícia Ramos trabalha numa área híbrida entre ciência, história e ficção. Cada um dos projetos é, por sua vez, um experimento. Ramos constrói todos os tipos de engenhocas e máquinas que vão ajudá-la a realizar o projeto no qual se encontra trabalhando. Em 2012 ela produziu o projeto Vostok. A partir do evento real da viagem de um submarino russo ao lago antártico do mesmo nome, ela desenvolveu um vídeo em que vemos o navio navegando pelas profundezas do lago. Como parte deste projeto, ela também produziu um trabalho sonoro e um livro de artista.

Essa referência à ciência e às fronteiras é algo que fascina Ramos. Trata-se de ver o trabalho científico como meio de gerar imagens significativas para a criação de arte; trata-se de descobrir um território novo e extremo no qual as linhas divisórias são apagadas. Ramos desenvolveu esta ideia de simular imagens científicas no mesmo período em que produziu o projeto Vostok, com toda uma série de fotografias que nos levaram a esta área, com títulos como Teleportation (2014) e Meteorite I (2014), embora na realidade careçam de significado científico e só façam sentido na esfera artística. Nesses trabalhos ela não só introduz a noção de simulação em sentido estrito, como também propõe a ideia de simular a utilidade num sentido ontológico. Juntamente com esses conceitos, a ideia de técnica fotográfica é um sentido ontológico. Juntamente com esses conceitos, a idéia de técnica fotográfica é um sentido ontológico. Juntamente com esses conceitos, a idéia de técnica fotográfica é um elemento intrínseco ao seu trabalho. Ramos construiu câmeras exclusivas feitas à mão, permitindo-lhe criar imagens diferenciadas pela noção de singularidade. Estas invenções de arqueologia tecnológica, o “Escafandro”, a máquina “ERBF”, o “Polar”, que ela desenvolveu entre 2007 e 2012, são dispositivos que ela usa para criar imagens únicas que de alguma forma nadam contra a corrente do mundo digital contemporâneo.

Álvaro Rodríguez Fominay
Texto retirado do catálogo “ITINERARIOS XXIII”
2017
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