[VOSTOK]
35mm transferido para HD, som 5.1, 8’ looping
2013

Veja o blog do projeto aqui 

VOSTOK é um projeto que parte da descoberta científica de um lago pré-históricosubmerso na Antártida. Em 2012, os cientistas da base russa de pesquisaVOSTOK recolheram amostras de um lago a 4 km abaixo da superfície congelada.Estas amostras são “cápsulas do tempo” da época em que o continente daAntártida começou a congelar. Curioso sobre a existência da vida e do fundo dooceano da paisagem pré-histórica, um cientista russo enviou um submarino emminiatura para as águas frias do lago subglacial. Estes registros contêm umainvestigação da representação da vida submarina no Pólo Sul,mostrando lagossub-polares, submarinos russos, a idade pré-glacial e as luas de Júpier.

VOSTOK é um projeto de múltiplas mídias que reúne filme, cineperformance,livro e disco (LP).Cada obra do projeto trata de diferentes aspectos de um mesmo universoficcional, desenvolvendo uma relação complexa entre os elementos narrativos dahistória e do próprio processo artístico que compõe o conjunto épico de Vostok.

O filme VOSTOK simula a viagem ficcional de um submarino a um lago pré-histórico submerso na Antártida a partir de maquetes. Realizado no espaço PIVÔ–Arte e Pesquisa, foi produzido em 16mm sendo finalizado em película 35mm eem HD. O set de filmagem estava aberto ao público e todo o seu processo criativopoderia ser acompanhado in loco ou pelo blog.

Em VOSTOK_CINEPERFORMANCE, uma projeção da cópia 35mm do filme éacompanhada por uma performance, em que todos os sons e ruídos do filme,incluido sua trilha sonora, são executados ao vivo. Dessa forma, forma-se umanova orquestra composta por músicos e executores de foley cinematográfico.

Em 2012 foi realizada no PIVÔ– Arte e Pesquisa a performance musical “Ensaiopara gravação de orquestra” em colaboração coma artista Lúcia Koch e ocompositor e maestro Rossano Snell, a partir da qual foi gravada a trilha sonoraoriginal do filme. As duas execussões integrais da peça foram gravadas em LP.Em 2015 foi realizada uma segunda performance musical no 19º Festival doVideobrasil.


Exposições:
11º Bienal do Mercosul - Porto Alegre, Brasil, 2018
Videoroom Villa Paloma,Nouveau Musée National de Mônaco - Mônaco, 2016
“VOSTOK”, CAPC - Museu de Arte Contemporânea, Bordéus, França, 2015
19º Edição Festival Videobrasil - São Paulo, Brasil, 2015
BES Photo, Museu Coleção Berardo - Lisboa, Portugal, 2014
“VOSTOK - Screening #1”, Galeria Mendes Wood - São Paulo, Brasil, 2014
“VOSTOK - um prólogo”, Pivô - Arte e Pesquisa - São Paulo, Brasil, 2013
WRO Art Center - WRO Bienal, Polônia, 2013




Disco LP e livro musical
Gravação ao vivo da performance musical “Vostok Suite” peças I e II

Este longplay é o registro da performance “Ensaio para gravação de orquestra” realizada no estúdio da artista Letícia Ramos no PIVÔ - Arte e Pesquisa em 04 de abril de 2013 O show faz parte da trilha sonora do projeto de filme, livro e CD intitulado VOSTOK. Uma viagem ficcional a um lago pré-histórico submerso na Antárctica.

Composição e condução:
Rossano Snell


Orquestra:
French Horn: Ari Cortez
Vibraphone: Carlos dos Santos
Percussion: Vinícius Batista
Clarinet: Patrick Moreira Lima
Violin: Tamiris Soler
Violoncello: Thiago Faria

Masterização:
Stefan ‘Lopazz’ Eichinger


Captação de som:
Juliano Zoppi


[VOSTOK] _ Um prólogo 

É um livro de artista no qual construí uma narrativa a partir de “amostras” fotográficas retiradas de modelos de ambientes aquáticos antárticos para “evocar” uma falsa hipótese científica. O livro faz parte da série “O ATLAS EXTRAORDINÁRIO” em que, a cada número, procuro extrair complexos “ROMANCES GEOGRÁFICOS” a partir da articulação entre o processo artístico, a ciência e a ficção.
Este projeto ganhou o prêmio PROAC pela edição de livro de artista.

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EM ÁGUAS PROFUNDAS


O I Ching, conhecido como Livro das Mutações, pedra angular do cânone oriental, tornou-se fonte de consulta e oráculo, para diversas ações estratégicas adotadas por diferentes ditaduras e governos militares - subvertendo sua real intenção. Quando foi traduzido para o inglês no início do século 20, rapidamente se tornou um referência para capitalistas norte-americanos, bem como para o leste companheiros. Da mesma forma, as ações ou teorias pseudocientíficas se tornaram a fonte do radicalismo brutal de alguns movimentos extremistas. No regime nazista, por exemplo, os escritos de Karl Neupert foram fundamentais para o movimento Hohlweltlehre, a teoria da "Terra Oca". É sabido que alguns membros do alto escalão do partido nazista eram adeptos do Thule Gesellschaft, uma espécie de ordem Neotemplar misturada com práticas ocultistas e ciências mágicas herméticas, fundadas por o alemão Rudolf von Sebottendorff. Este tipo de literatura que mistura ficção e ciência remonta ao século 17, mais precisamente aos estudos de Edmund Halley, que afirmou a Terra era oca, e que havia três outras esferas dentro dele. Dentro dessas esferas, haveria novas formas de vida, que não estavam cientes da existência de entidades nas grandes esferas. Caberia aos seres externos, nesse caso, humanos, para cavar buracos e acessá-los.

Um século depois, o matemático Euler surgiu com outra teoria, afirmando
que não havia múltiplas esferas dentro da terra, mas apenas uma esfera oca, e que formas superiores de vida viviam lá dentro. Essas duas teorias foram a base para estudos que fundaramo livro механика скрытой вселенной, Mecânica do Mundo Oculto, do cientista russo Ivan Korolenko.

Não por acaso, uma cópia deste livro foi encontrada em uma cápsula do tempo que os soviéticos implantaram no oceano através um batiscafo russo, no século 20, que somente em 2050. É muito provável que esta publicação também serviu de inspiração para expedições de um micro submarino, que era o único submersível capaz de ir mais fundo de 100.000 pés.

Em uma de suas missões, o submarino foi enviado para a Antártica, com o objetivo de explorar um lago turvo que havia sido congelado por milhares de anos. O recente aumento no global as temperaturas revelaram o lago, que foi denominado VOSTOK. Lá, a vida seria diferente, porque os cientistas soviéticos acreditava que tal lago poderia conservar um mundo pré-histórico, mantendo formas de vida nunca antes vistas.

O VOSTOK, de Letícia Ramos, conta um pouco dessa história: um elemento de uma complexa rede de provas e documentos que confirma a existência de um lugar que ainda não conhecemos. O solo de águas pré-históricas, então, é capturado pelo submarino construído pelo artista, lembrando-nos das explorações soviéticas. Manipulando ferramentas de imagem, Letícia consegue extrair do infravermelho o mais sensível do notável. E aqui, olhando as referências que a fotografia nos deixou, lembro-me apenas de alguns casos semelhantes. Alguns exemplos são as experiências paranormais do norte-americano Ted Serios, com uma câmera que tirava fotos de pensamentos; os estudos dos russos Semyon e Valentina Kirlian, que criaram uma máquina para registrar a energia que circunda nosso corpo; o aparelho construído pelo alemão Augusto Mayer, máquina capaz de captar as esferas de energia que emanam de nossas mãos; o optograma melancólico, pelo Dr. Vernois, que pôde registrar a última imagem vista pela retina dos mortos; e, por fim, o improvável equipamento inventado pelo francês Hippolyte Baraduc: uma enorme câmera sem lentes capaz de tirar fotos de Deus.

É incerto se esses dispositivos realmente existiram ou não, mas suas imagens nos mostram que a fé não é apenas um sistema de crença baseado no improvável. Além disso, vai aonde a ciência encontra truques e a onde a mágica encara o cinema. Nestes campos, existem linhas invisíveis separando-os, aproximando-os ao mesmo tempo. Se exigirmos provas de teorias e postulados científicos, registros de documentos e experiências práticas nos mostrarão um exemplo dessas metações.

E para aqueles que duvidam do tratado da Terra Oca, vale fazer uma visita à Academia de Ciências Naturais da Filadélfia que salvaguarda o modelo deste mundo, desenhado no século 19 século por J. Cleves Symmes. Ou, se estiver próximo, vale a pena visitar o Aquário construído por Letícia Ramos. Essas duas construções são outras maneiras de exemplificar teorias que não requerem confirmação, como cinema, literatura e até história. Portanto, há não haverá dúvidas sobre os experimentos que inventam o mundo dentro do próprio mundo, seja ele cheio de ar ou levado pela água.


Michel Zózimo
2013


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